Instituto Superior de Gestão e
Empreendedorismo Gwaza Muthini
Curso de Mestrado em Ciências de Educação 2018
TICs na Educação e
Ambientes Virtuais de Aprendizagem
Docente: Prof. Doutor Félix Singo
Zeca
Simião Inguane
Apropriação das Tecnologias de
Informação e Comunicação na Educação em Moçambique
Resumo
Neste
artigo defende-se que com apropriação das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) na Educação, em particular no ENSINO, haverá mais benefícios
em vários aspectos do Processo de Ensino e Aprendizagem (PEA). A implementação
das TICs na educação vai causar sempre mudanças no meio das escolas, assim como
no PEA, uma vez que, ao introduzi-las pode gerar inovações nas metodologias de
ensino e pesquisa e, ainda, melhorar o funcionamento da instituição.
A apropriação das TICs nas escolas moçambicanas
vai trazer resultados positivos e negativos, pois para a sua implementação
custa valores monetários muito altos. Entretanto, quer as nossas instituições,
quer os nossos alunos estão preparados para fazer face as dificuldades
decorrentes da utilização das TICs. Não se anula, porém, a importância das TICs
no ensino, já que podem apoiar as novas abordagens pedagógicas, dando maior ênfase
à iniciativa do estudante e ao trabalho em grupo, fazendo com que o papel do
professor seja de um moderador.
Portanto, aqui descreve-se e analisa-se o impacto
da apropriação das tecnologias de informação e comunicação na Educação,
particularmente, no processo de ensino e aprendizagem. E trazemos, ainda,
experiências de apropriação das TICs na Escola Secundária de Xai-Xai em Gaza.
Com este objectivo, o autor aborda conceitos e práticas de forma a apoiar a
educação, a escola, os professores assim como os estudantes a desenvolverem
trabalhos com recurso as tecnologias de informação e comunicação disponíveis.
PALAVRAS-CHAVE: TIC,
Computador, Processo de Ensino-Aprendizagem,
Introdução
Os
benefícios das TICs na vida do cidadão vão muito além de habilidade de
manipulação das ferramentas, mas inclui benefícios económicos, melhoramento da
qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos, aquisição de novos conhecimentos e
integração na rede mundial de troca de informação e de experiências diversas e
de forma transversal, os benefícios se
estendem para a expansão da liberdade dos indivíduo, sobretudo de expressão e
de livre comunicação. Entretanto, o estudante não é excepção, com a implementação
das TICs nos currícula escolares, sobretudo, no ensino básico e médio, há mais
ganhos para os envolvidos no PEA.
A
informática é uma das várias tecnologias de informação que tem um impacto maior
no PEA pela sua abrangência e utilização. Esta é muito difundida em diferentes
ambientes de trabalho, pois actualmente todos os sectores usam esse meio para
dinamizar o trabalho. Neste contexto, a informática é aplicada na elaboração dos
plano curriculares, dosificações, preenchimento de verbetes e pautas, aulas,
fonte de pesquisa, criação de base de dados.
Portanto,
tendo em conta que o grosso número da população moçambicana situa-se na zona rural, que neste momento
assume com naturalidade que os computadores e a Internet
são para pessoas ricas ou com
qualificações académicas mais alta, isto faz com que com que os recursos e as oportunidades cheguem primeiro as grandes cidades onde estão concentradas as
camadas intelectuais e novos ricos e só depois
à comunidade rural. Face a esta realidade, o desafio principal reside na massificação de formação, que vai para além de cursos
básicos, mas para a capacitação do uso efectivo de TIC.
Um dos aspectos a destacar na integração das
TICs e da implementação das redes nos sistemas de aprendizagem e de
administração é o alargamento do espaço e do tempo das possibilidades de
interacção e trabalho entre todos os intervenientes educativos. (MEIRINHOS
& OSÓRIO, 2011, p. 50).
Assim sendo, sabemos que, as
transformações nas formas de comunicação e de intercâmbio de conhecimentos,
desencadeadas pelo uso generalizado das tecnologias digitais nos distintos
âmbitos da sociedade contemporânea, demandam uma reformulação das relações de
ensino e aprendizagem, tanto no que diz respeito ao que é feito nas escolas,
quanto a como é feito. Precisamos então começar a pensar no que realmente pode
ser feito a partir da utilização dessas novas tecnologias, particularmente da
Internet, no processo educativo. Para isso, é necessário compreender quais são
suas especificidades técnicas e seu potencial pedagógico. Diante da inserção da
tecnologia na educação, despertou-nos o interesse numa discussão que
problematizasse os reflexos do avanço tecnológico na aprendizagem do
aluno.
1.
Conceito
das TICs
Tecnologias da informação e comunicação (TICs) é uma expressão que se refere ao papel
da comunicação (seja por fios, cabos, ou sem fio) na moderna tecnologia da
informação. Entende-se que TIC são todos os meios técnicos usados para tratar a
informação e auxiliar na comunicação, o que inclui o hardware de computadores,
rede, telemóveis, bem como todo software necessário. Ainda, podem ser
entendidas como um conjunto de recursos tecnológicos integrados entre si, que
proporcionam, por meio das funções de hardware, software e telecomunicações,
a automação e comunicação dos processos de negócios, da pesquisa científica, de
ensino e aprendizagem entre outras.
2.
As Tecnologias de Informação e Comunicação na
Educação
O Ministério da Educação de Moçambique queria
transformar a evolução do ensino no país através da introdução de
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no sistema de ensino. Para isso,
lançou o oficialmente, no dia 30 de Novembro de 2011, o Plano Tecnológico da
Educação de Moçambique. Segundo um comunicado da consultora, o plano foi
concebido e desenhado tecnicamente pela Leadership. Reflectia “uma
visão estratégica integrada para alcançar impactos de curto, médio e longo
prazo” de âmbito educacional, mas também social e económico, dizia o comunicado.
Entre várias iniciativas, o plano “previa
a introdução de computadores nas escolas, a criação de programas de
financiamento para que os professores pudessem ter acesso a computadores, a
formação de professores e a produção de conteúdos digitais para que os alunos
melhorassem o seu desempenho escolar, reduzissem a iliteracia e apoiassem as
comunidades locais em várias matérias como a saúde e a empregabilidade”. Contudo,
ainda é um grande desafio para o governo moçambicano proporcinar às escolas computadores
suficientes e ligados a internet ou criar tais parcerias com ONGs que pudessem
financiar, pois ainda temos muitas escolas sem uma sala de informática, as que
têm, dispõem de poucos computadores, sem falar de internet, em função do número
elevado dos estudantes por turma.
As
principais tarefas dos actores de
política nacional de informática consistiam em: impulsionar e supervisionar a elaboração da Política de
Informática; formulação e coordenação de
Políticas e Estratégias de Ciência e Tecnologias; normalização e regulamentação;
promoção da valorização de conhecimento
local; protecção de direitos de propriedade; elaboração de Políticas
de Comunicação e de Acesso Universal; implementação da Política
Informática, elaboração de projectos de
legislação e regulamentação; regulara a interligação das redes
e a interoperacionalidade dos
serviços públicos de telecomunicações ,
atribuição de licenças; garantir o apoio ao desenvolvimento do sector de comunicação social em Moçambique e formação de
quadros superiores do sector das TIC, (SANGONET, 2009, P. 6-9).
Todavia, na maioria dos estabelecimentos de ensino
tutelados pelo Ministério de Educação em Moçambique não se desenvolvem
experiências suficiente que possibilitam o manuseamento, exploração, criação de
estratégias e modelos para a utilização das tecnologias da informação e
comunicação na sala de aula ou uso das mesmas fora da escola, devido a
insuficiências dos meios, professores não qualificados ou capacitados em metérias
das tecnologias, também as salas numerosas em função dos computadores, exemplo
da Escola Secundária de Xai-Xai, que tem uma sala de informática que, aquando da enauguração em 2008 tinha 40
computadores, porém com o tempo esses computadores estragaram-se e, agravaram a
situação de uso dos mesmos, tendo em
conta que as nossas turmas têm em média
60 alunos, como mostra a figura abaixo.
Fig. 1: Sala de Informática da E. S. Xai-Xai
A escola é local onde as TICs devem ser
operacionalizadas, devendo para tal, apresentar-se como base do domínio da
produção e disseminação das novas práticas das TICs no ensino, fazendo com que
as entidades de tutela estejam atentas aos sinais claros das transformações
pelas quais a sociedade está passando e revolucionando as mesmas, formando
indivíduos com um domínio das TICs. (RODRIGUES, 2006, P. 3)
Face a este
propósito, a educação em Moçambique não pode limitar-se ao espaço físico dos
estabelecimentos de ensino mais sim deve proporcionar um espaço de respostas,
aberto e sujeito às influências do ambiente tecnológico que o mundo assiste nos
nossos dias, criando condições de aquisição destas tecnologias de informação e
comunicação.
O computador ligado a internet também faz parte das tecnologias de informação e
comunicação, e tem um grande contributo na educação e, em particular, nos
estabelecimentos de ensino onde são vistos como instrumentos de grande
potencial para desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, que
permite que os estudantes desenvolvam o seu trabalho de análise e selecção da
matéria pesquisada, produza mensagens, auto-imagem e aprenda pesquisando. Esta
maneira de estudar privilegia as interacções com os materiais disponíveis na
internet. Porém, na Escola Secundária de Xai-Xai, uma escola de referência na
Província de Gaza, não dispõe de computadores ligados a internet na sala de
informática. E pior para as escolas das zonas recôndidas, pois sabe-se que há
mais recursos na cidade que no campo.
3. O Paradoxo das Políticas da Educação em Relação as TICs
em Moçambique
No âmbito das reprovações massivas verificadas
no ano lectivo de 2015 no ensino geral, sobretudo nos exames da 10ª e 12ª
classes, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano instaurou um
inquérito para perceber as causas do insucesso no aproveitamento escolar.
Segundo os resultados apurados no inquérito, concluiu-se que os motivos que
estão por detrás deste fenómeno prende-se com a fraca assiduidade dos
professores e alunos, pouco interesse pelos estudos, dificuldade de assimilação
das matérias nalgumas disciplinas. E, ainda, acrescentam-se outros factores
como o fraco desempenho dos professores, falta de motivação, indícios de
corrupção e suborno e incumprimento de programas.
Neste
contexto, o conselho de ministros identificou, também problemas que decorrem do
fraco desempenho dos gestores, onde verificam-se fragilidades no mecanismo de
controlo e supervisão pedagógica.
Como
medida para reverter esta situação que afecta o ensino, os titulares dos órgãos
que regulam a actividade educativa no país tomaram como solução insensata a
proibição do uso de celulares na sala de aulas, ou seja, manusear telefone
celular ou simplesmente entrar com o aparelho ligado na sala de aulas passou a
ser proibido nas escolas.
A
justificação para a adoptação da proibição tem a ver com relatos de casos de
alunos que durante as aulas trocam mensagens, ou passam o tempo nas redes sociais,
como o facebook, ou o whatsapp perturbando o processo de ensino e aprendizagem,
acto este que se reflecte directamente no fraco aproveitamento pedagógico. Com
a interdição do uso do telemóvel na sala de aulas, esperava-se que os
estudantes se empenhasse cada vez mais na sala de aulas.
O
Plano Estratégico da Educação 2012-2016 reconhece, através da política de
promoção e expansão das novas tecnologias, o potencial que o instrumento
tecnológico (celular) tem para o desenvolvimento da educação e diversificação
das metodologias, o que pode concorrer na melhoria da qualidade do ensino. O
celular é um meio didáctico de reforço da aprendizagem
porque
a aprendizagem das matérias pode não circunscrever somente no ambiente das
salas de aulas, como também pode ocorrer em qualquer lugar e momento. E, ainda,
o celular é mais económico e prátco de usar em relação ao computador, tendo em
conta as dificuldades que o país atravessa para aquisição dos meios para a
apropriação efectiva das TICs nas escolas como é o caso de internet e
computadores suficientes.
Entretanto,
alguns professores permitem o uso dos celulares nas salas de aulas,
contrariando esses decretos, e provam a efeciência dos mesmos no processo de
ensino aprendizagem, pois muitos estudantes, mesmo sem condições de ligá-lo à
internet, transferem-se os manuais via bluetooth
para os seus dispositivos, como mostram as imagens abaixo.
Fig. 2: Celular de um estudante da E. S. Xai-Xai durante a aula de
Português
Cabe ao professor, de forma muito criativa,
usar o celular para o ensino e aprendizagem. O professor deve controlar o uso
do celular na sala de aulas. Criar estratégias de ensino motivadoras com o
celular. Se os alunos hoje não têm celulares, podem dormir durante a aula,
podem desenhar, porque o problema não é o
celular, é a motivação. É tarefa do professor criar estratégias motivacionais
baseada na integração do celular nos curricula para estes adolescentes.
4.
Mudança de Atitudes dos
Professores Moçambicanos face as TICs
A formação dos professores deve ter em conta
a mudança de atitudes dos professores face as TIC’s e o seu potencial para o
uso das mesmas em contexto educativo .(COSTA, 2005).
Considerando
os pontos acima, esse parece ser um dos factores mais determinante na decisão
profissional e de competência sobre a utilização das tecnologias, no entanto,
parece que a formação deve ser estruturada com base numa estratégia que permite
a mudança de atitudes dos professores face ao potencial pedagógico deste novo
recurso didáctico, através da tomada de consciência da importância da utilidade
e beneficio que esse material, usado como ferramenta do ensino-aprendizagem
pode trazer. Pois as tecnologias podem ser um elemento do progresso educativo
mas é necessário o papel do professor.
O
professor é, assim, elemento fundamental para qualquer projecto ou iniciativa
de integração das tecnologias no currículo e nas práticas escolares quer em
grande quer em pequena escala. É importante saber o que os professores pensam
acerca das tecnologias e do seu papel no processo de ensino-aprendizagem, assim
como as suas atitudes e expectativas. Deste conhecimento e de outros sobre as
tecnologias, sobre as suas efectivas potencialidades e as condicionantes para a
sua aplicação, podem inferir-se linhas orientadoras para a concepção de acções
de formação.
Neste
âmbito, acredita-se que o uso das TIC’s pelos professores nas suas actividades
em contexto educativo implica o desenvolvimento de competências específicas por
parte destes, de modo a responder ao desafio que as TIC’s colocam. O
desenvolvimento de competências, pode ser explicado como um processo complexo,
progressivo, integrador, dinâmico, nunca acabado, mas sempre reconstruído. De
facto, a aprendizagem é algo contínuo, isto é, decorre ao longo da vida pois é
um processo dinâmico. E, ainda, requere uma ousadia por parte dos utentes, pois
alguns professores têm medo de mexer
com as tecnologias. Por exemplo, na Escola Secundária de Xai-Xai com a
implementação dos verbetes electrónicos, alguns professores resistiram a essa
mudança, continuaram a trazer verbetes manuais, apesar das reconhecidas
vantagens. Actualmente, com uso de verbetes electrónico, o período de
realização dos conselhos de notas encurtou-se bastante, já que os professores
não precisam de calcularem as médias e, nem precisam de preencherem as pautas,
tudo é feito automaticamente.
5.
Conclusão
As novas
tecnologias presentes no ensino nas escolas moçambicanas, devem ter como
propósito contribuir com a qualidade do
ensino, pois se constituem em ferramentas que devem auxiliar no processo
pedagógico. Reconhecemos a importância das tecnologias, bem como a importância
do aluno interagir no processo de ensino e aprendizagem. Contudo, reconhecemos,
também, que o sucesso educacional não se concentra apenas nas ferramentas
metodológicas utilizadas, pois, não basta, somente a presença da tecnologia.
Assim, o professor deve estar presente neste processo pedagógico como
orientador e mediador, apresentando os temas a serem estudados e promovendo
perspectivas de análise mais críticas, por parte dos alunos. Além de reflectir
sobre sua prática, especialmente no contexto de mudanças da escola pela
presença das novas tecnologias.
Portanto,
a introdução das TICs no ensino Moçambicano deve ser acompanhada de várias
mudanças na formação dos profissionais da educação, mas estas não podem ser
vistas como único factor desencadeador de mudança no ensino e na escola pois,
outros aspectos, também devem ser revistos, tais como: a forma como o currículo
afecta o desempenho do professor e a maneira como a gestão escolar interfere.
6. Bibliografia
2.INDE, Plano Curricular do Ensino Secundário Geral.
Maputo, 2007.
3. MARTINS, Zeferino, Moçambique aposta nas TIC para a Educação,
disponível em www.computerworld.com.pt, acesso em
13 de jun de 2013
5.
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Tecnologia de Moçambique, Maputo Ministério da Educação (2012).
6. Plano
estratégico da educação 2012-2016: construindo
competências para um Moçambique em constante desenvolvimento. Maputo,
Moçambique: MINED.
7. Plano
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8.
SANGONET, (2009) Inclusão Digital em
Moçambique: um desafio para todos, relatório de Moçambique , CIUEM.